Editora: Companhia das Letras
Mesmo no século XXI, os românticos de plantão não
desprezam leituras que remontem épocas distantes onde as mulheres ainda se
escondiam atrás de espartilhos e aguardavam, pacientemente, pelos cavalheiros que
as levariam a um paraíso de amor sem fim.
As sombras de Longbourn consegue transportar os leitores
para esse universo, e pinta um retrato
daqueles que trabalhavam para que a elegância dos lordes e damas fossem
intactas. Jo Backer arrisca bastante nessa nova perspectiva do clássico mais
adorado de Jane Austen, Orgulho e Preconceito, quando faz de uma simples
serviçal, Sarah, a sua personagem principal.
O problema não é dar vida aos empregados da família
Bennet, mas “alterar” a imagem que as fãs de Jane fizeram de Elizabeth, além de
questionar o caráter do Sr. Bennet. Toda a “perfeição” desses dois personagens
é destruída durante a narrativa que pinta Lizzy como uma menina mimada que
adora caminhar e sujar as bordas de seu vestido sem se importar que Sara e
Polly passem madrugadas lavando roupa em
água capaz de congelar os dedos. Já o Sr. Bennet esconde bem um segredo que
torna mais amarga a vida da governanta, a Sra. Hill.
Em meio a tantas
intrigas, Sarah procura dar um sentido à sua existência, pois está cansada de
viver em função do casal Bennet e de suas 5 filhas. Ela quer conhecer a
agitação de Londres e descobrir o que há fora de Longbourn. Nesse período,
aparecem o misterioso James Smith e o galanteador lacaio, Pitolomy Bingley. Os olhos da personagem
se abrem para ver que ela é mais do que mãos calejadas ou roupas simples, ela é
uma mulher que precisa e merece ser amada.
A saga revela como a vida
pode ser difícil e que os mais “nobres” tem segredos capazes de fazer até os
queixos mais duros caírem. A opressão da falta de perspectivas que os
empregados têm remete ao sistema de casta indiano, onde órfãos sem um sobrenome
importante só podem contar com a bondade de famílias mais abastadas para dar
casa, comida e pouquíssimas horas de descanso, em troca de uma existência
medíocre. Não há grande chances de mudar esse destino. Entretanto, Sarah
consegue escrever sua própria história.
De leitura fácil, claro
que com nomes e expressões diferentes da época, e com narrativa bastante
descritiva, o livro pinta cenários diferentes das salas de estar e dos salões
de baile. Ele fala do campo e da simplicidade dos locais onde Sarah e os demais
personagens, ocultos na saga da Srta. Austen, transitavam. Nesses ambientes, assuntos
como sexo, homossexualidade e traição estão presentes.
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